(Matéria retirada do site www.tramauniversitaria.com.br)
18/5/2006
Tatiana Dias
O jornal-laboratório Esquina, produzido por alunos do sexto semestre de Jornalismo do Centro Universitário de Brasília, completa 38 anos de existência em uma polêmica inédita. A segunda edição do ano foi finalizada, impressa, e na hora de ser distribuída, a universidade vetou. Os alunos protestam: alegam que a edição foi censurada por causa de uma matéria sobre o populismo do ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. A universidade nega e afirma que foram apenas irregularidades administrativas.
São produzidas, ao longo do semestre, três edições do Esquina para cada turma, manhã e noite. Foi a edição do noturno a envolvida com a polêmica. A produção do Esquina funciona como uma redação comum: os alunos dividem os cargos de repórteres e editores, sob a supervisão do professor orientador. Ao ser finalizada a edição, o boneco do jornal é enviado para o professor orientador e as matérias para o coordenador do curso e para a direção da faculdade. Depois, para a reitoria. Desse trâmite, saem duas autorizações de impressão, para as turmas da manhã e da noite. Dessa vez, alguém enviou duas autorizações para a manhã, mas a gráfica não percebeu o erro. A edição do noturno, então, foi impressa sem a autorização.
No sábado, dia 6 de maio, os alunos pegaram os exemplares e levaram para a sala do jornal. Quando chegaram na segunda-feira, os exemplares já não estavam mais lá. “O professor falou ‘olha, deu um grande problema’. A gente ficou pensando no que será que tinha acontecido. Na terça-feira, o coordenador do curso conversou com a gente e disse que teve um problema na matéria do Roriz”, conta a aluna Susane Morais, que participou da edição.
A matéria “Comigo é no popular” fala sobre as supostas políticas de “pão de leite” e de assistencialismo de Roriz. Com entrevistas com cientistas políticos que explicam as práticas, jornalistas e um povo-fala mostrando a opinião da população em relação ao ex-governador, a idéia é explicar o “Rorizismo”. “A matéria na verdade não tem nada demais, a gente mostra os dois lados do populismo do Roriz”, disse Susane. Para ela, a “censura” aconteceu porque “eles têm laços estreitíssimos com esse governador. Antigamente tinha uma foto do Roriz na sala da reitoria”, conta.
A universidade, por sua vez, acha absurda a acusação de censura. Para o Professor Harry Klein, assessor de relações institucionais da Uniceub, o motivo da recolha são as irregularidades no envio da edição para a gráfica. “Para ser impresso, precisa do Financeiro aprovar. Em cada jornal, é avaliado o preço, se está dentro dos valores. Então, é mandada uma assinatura para a gráfica, para o Financeiro pagar o jornal. Foi mandado pro jornal matutino, pro noturno não”, explica Harry.
Só que é o próprio Harry o responsável por mandar essas autorizações para a gráfica – e ele afirma que não as recebeu. Harry diz que o professor orientador e o coordenador assumiram a responsabilidade de levar as autorizações à gráfica, mas isso ainda não aconteceu. Ele questiona: “esse jornal é um laboratório. O professor e o coordenador são responsáveis. Mas eles não são responsáveis pelo pagamento. Por que assumiram essa responsabilidade?”. O problema tomou proporções tão grandes que, agora, a gráfica ficou sem pagamento, já que oficialmente a universidade não autorizou a impressão do jornal.
“Não chegou a haver a censura. A única coisa é que o secretário-geral chamou o coordenador pra conversar. Quando isso aconteceu já estava impresso o jornal, sem a assinatura dele. A palavra censura é excelente pra causar impacto na mídia”, diz Harry. Para os alunos, no entanto, a censura foi clara. Ao ver que a edição havia sido recolhida, eles entraram em contato com a reitoria ameaçando entrar com medidas jurídicas e fazer manifestações. “Mesmo assim eles disseram que não iam retroceder e ainda afirmaram que o jornal, desde que existe, não fala sobre política nem religião. Mas na edição passada, a matéria principal era sobre o Arruda e Paulo Tarso (candidados ao governo do DF)”, conta Susane.
Dentro da universidade, foi instaurada uma sindicância para apurar os verdadeiros culpados pela confusa trajetória desta edição do “Esquina”. “O que estamos no momento é num processo de apuração. E essa sindicância está incomodando algumas pessoas”, diz Harry.
Na última terça, houve uma reunião entre o coordenador do curso e a reitoria, que propôs que o jornal poderia ser reimpresso – se tivesse duas páginas para Roriz se defender. “Mas porque ele vai se defender se o jornal nem entrou em circulação?”, questiona Susane. Os alunos realizaram diversas manifestações e, agora, exigem que o “Esquina” não mais passe pelo crivo da reitoria. Entraram em contato com o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, que ofereceu um advogado para defender a causa. Agora, os alunos movem um processo conta o Uniceub. “O Uniceub é pago. Nós somos consumidores, porque a gente paga para ter três mil exemplares do jornal que foi recolhido, encalhado. Para o jornalista a pior coisa que tem é ver seu jornal encalhado”, disse Susane.
Os alunos estão produzindo agora a terceira edição do “Esquina”. Mas dizem que não desistirão do número dois. Para ler a matéria supostamente censurada, clique aqui